31 de março: questão de ponto de vista

Hoje falei pra minha mulher que era o dia da "gloriosa", como muitas vezes em minha infância ouvi referências ao movimento militar de 31 de março de 1964, que tinha o apoio de vastos setores civis da sociedade brasileira, e que resultou no golpe que derrubou Jango e mergulhou o Brasil em mais de 20 anos seguidos de repressão, crescimento econômico e ditadura.

Devo ressaltar que naquele março eu tinha apenas oito meses de idade! O que ouvia e vivia nos anos que seguiam era uma coisa meio estranha, de palavras não ditas, críticas na surdina, sem deixar de ouvir os que falavam da Revolução de 1964! Jogo de palavras para uma criança como eu, mas que refletiam uma realidade cruel pelo país afora. Em meu ponto de vista de estudante naquele período, o que lembro eram das solenidades que as escolas públicas eram obrigadas a participar no dia 31 de março para lembrar da "gloriosa".

Havia uma cerimônia cívico-militar em minha cidade todo dia 31 de março. Não sabíamos o que era aquilo, a tal da "gloriosa". De triste memória.

Quem era a favor do golpe falava em "revolução de 64", a tal de "gloriosa". Quem não era, falava em golpe.

Pois então. Há muito que lembrar neste 31 de março. Ainda bem que é sábado. Tenho 43 anos e nenhuma lembrança boa de uma época sem liberdades. Só as pessoais. Aí, é outra história.